domingo, 17 de agosto de 2008

Sobre cavalos e pássaros

Não são apenas os cachorros que são as caras dos seus donos.

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- Meu sonho é voltar para São Paulo, andar pela Paulista e ir a todos os eventos divertidos que existirem naquela cidade. Nessa merda de interior não tem nada de interessante para fazer. Interioranos são muito parados.
- Claro que tem. Aqui tem quase tudo que tem lá, talvez com um pouco menos de diversidade, mas ainda assim é possível se divertir. Não entendo por que você reclama tanto. Se você não tivesse dito, eu nem teria notado que estamos no interior.
- Sei...
- Mas enfim, mudando de assunto, o que é aquilo no meio da rua?
- Um cavalo. E não diga que eu não avisei.

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Anos depois, o garoto voltou à capital, com uma mochila nas costas e seus sonhos de mundo. Cansado da viagem, comprou um lanche e sentou-se em um banco qualquer da rodoviária para observar a multidão. E que multidão. Gente de tudo quanto é jeito, tamanho e forma, apesar dos gordinhos e os de olhos puxados parecerem maioria. Mas havia algo em comum entre todos: a correria.

Foi quando, ali, no meio de toda agitação, um passarinho pousou e passou a observar o jovem rapaz. Admirado com a coragem do pequeno pássaro, que, acostumado, parecia não temer a possibilidade de ser pisoteado, o jovem jogou um pedaço de seu lanche para ele. O pássaro pegou o pedaço e voou rápido para longe.

E o garoto continuou sentado, perdido em seus pensamentos, tentando entender que mal aquela cidade escondia. Pois algum mal escondia. Não era à toa que ninguém se olhava. Cada um, cada um. Nem mesmo os pássaros sabiam agradecer a ajuda do próximo. Talvez por serem meros pássaros. Talvez não.

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Em ambas as situações, o personagem principal sou eu mesmo. Até mesmo no diálogo, ambos os interlocutores possuem opiniões minhas. A verdade é que essa questão de interior e capital tem muitos prós e contras. O interior está longe de não ter nada para fazer, mas ainda assim, nem se compara a maior metrópole nacional.

Por outro lado, vivo me questionando se os próprios paulistanos aproveitam a beleza daquela cidade, visto que o medo da violência e a indiferença das pessoas são grandes. E é esse medo, aliado a quantidade de informações que por ali chegam, que deve deixar todas as pessoas tão agitadas e sozinhas. Não, você não leu errado, sozinhas mesmo. No meio daquela multidão, há muita solidão (basta observar a quantidade de pessoas perdidas freqüentemente pelo msn, criando mundos virtuais, nos quais elas podem esconder e curar as suas carências).

Se, porventura, os pássaros e os cavalos prosearem juntos a respeito do assunto, provavelmente poderão se ajudar, e acabar com as minhas dúvidas.

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